sexta-feira, 18 de maio de 2012

O navio fantasma


Os trechos dos textos a seguir foram retirados do Livro Imaginário Amazônico (2007), que reúne narrativas dos Livros: Lendas Amazônicas (1916) e Folclore Amazônico (1951) ambos de José Coutinho de Oliveira.
O Navio Fantasma de 1951 está classificado como Lenda de Encantamento, em que, encantamento é uma expressão utilizada entre o povo amazônico para designar fenômenos em que as mesmas se corporificam.

A história ocorre no Araci um povoado, habitado por agricultores e pescadores, originário de um antigo engenho que entrou em decadência depois do dia 13 de maio, pertencente na época ao município de Ananindeua. Quem narra à história é uma senhora que fala pelos cotovelos identificada como comadre Ana. Veja a seguir a história:

(...) A comadre fala um bocado e os casos que conta são quase sempre interessantes e maravilhosos.

Um dia destes nos apareceu e a conversa recaiu sobre os afundamentos dos nossos navios pelos corsários alemães.

- Não sei, meu compadre, mas serão mesmo os tais submarinos que estão fazendo essa malvadez? Outro dia eu e a comadre Mundica fomos tomar banho. O rio estava bem calmo, a manhã bem clara; já era quase meio-dia.

Nós ainda estávamos conversando, no porto, e eu já tinha me encomendado a S. Bento para me jogar n`água quando a comadre me bateu e me mostrou. Uma bandeirinha vinha subindo lá no meio do rio. Nós esperamos, esperamos, e a bandeirinha vinha sempre subindo, bem devagar, na ponta dum mastro preto. 

Daí há pouco começou a aparecer uma cousa como se fosse um casco de navio e brilhava como prata, no sol. Tivemos quase que fechar os olhos. Aquilo ficou ali por um tempo, depois foi outra vez mergulhando, mergulhando, até sumir. Nós nem tomamos mais o nosso banho. Isso é navio ou bicho do fundo, meu compadre da minh`alma? Eu não sei, mas que é que um submarino alemão tem que ver com duas mulheres que vão tomar banho?! Se ele quisesse fazer mal, não ia boiar lá em frente ao Araci, você não acha [,] meu compadre? Que é que tem lá para alemão? (...).

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