quinta-feira, 14 de junho de 2012

A Lenda do Anhangá


SIGNIFICADO E FORMAS DE APARIÇÃO
Anhá-Angá, “anhang” do tupi-guarani. “Ang” significando Alma e “Anhá”, correr, ou seja, uma alma que corre. Pode ser traduzido por alma errante dos mortos, sombra, espírito ou, como fala o caboclo, visagem, que é o mesmo que espectro, fantasma e assombração.

Anhangá é alma protetora das matas e, assim como o Curupira, é protetor de todos os animais. A ele parecem estar afetos o destino da caça e da pesca.
 
 Como alma é invisível, entretanto pode assumir diversas formas. As formas nas quais se apresenta depende para quem aparece.

Para desesperar pescadores, por exemplo, surge como pirarucu-anhanga e jurará-anhanga duendes de pirarucu e tartaruga.

Pode apresentar-se na forma de um pássaro (galinha do mato), macaco, morcego, rato etc. No fabulário da região norte encontra-se diferentes formas de sua presença: Mira-anhangá – visagem de gente; Tatu-anhangá – visagem de tatu; Suasu-anhangá – visagem de veado; Tapiira-anhangá – visagem de boi.

A sua forma mais comum de aparição é como um portentoso veado branco, com chifres cobertos de pêlos, olhos de fogo e com uma cruz na testa.

PODERES DE ANHANGÁ VERSUS ASTÚCIA DOS CAÇADORES
O Anhangá traz para aquele que o vê, ouve ou pressente certo prenúncio de desgraça, e os lugares freqüentados por ele são mal-assombrados.

Quando assobia a caça e a pesca desaparecem por encanto.

Existem caçadores e pescadores astutos que, tão logo reconheçam seu assobio, com ele compactuam para uma boa caça ou pesca oferecendo-lhe tabaco.

“Meu  compadre me dê uma boa caça, que lhe presenteio com um pouco de tabaco”.

Se a pessoa for atendida, dever cortar uma vara, rachar sua ponta e nela introduzir o tabaco, mortalha para cigarros e fósforo. Feito isso espeta a vara nas proximidades onde a caça foi abatida, dizendo: “compadre está aí o tabaco prometido”.

Contam que todos que se dispuseram voltar para procurar o ofertório, jamais o encontraram.

Mais uma vez o fumo assume um relevante papel no cotidiano das gentes do mato. O tabaco é utilizado também como ofertório para aplacar a ira, a cólera, dos seres punitivos e vingativos, ou agradar os benfeitores; para afastar as influências maléficas e atrair a proteção das deidades do mato.

Segundo relatos, se alguém fizer pouco caso de Anhangá, apanha na hora sem saber de quem, como se fosse atacado por alguém armado com um pedaço de pau.

Caçador desprevenido que aproximar-se de Anhangá em forma de veado e tentar abatê-lo, terá uma desagradável surpresa, pois expelindo fogos pelos olhos, o atacará com incontrolável fúria.

Dizem que se o caçador quiser ter uma caça tranqüila, evitando a presença de Anhangá, antes de entrar na mata deve acender foguetes com duas ou três cargas. Se já estiver dentro da mata pode defumar com castanha de caju ou ainda, mais fácil, é fazer uma cruz com madeira da própria mata.

Apesar de os poderes de Anhangá a astúcia de caçadores e pescadores consegue neutralizá-los em parte.

“Anhangá” são rimas para cantar o mito amazônico que protege os animais do caráter predatório de pescadores e caçadores.

FONTES:
Geografia dos Mitos Brasileiros - Câmara Cascudo;
Painel de Mitos e Lendas da Amazônia - Franz Keuter Pereira; e
alguns sites, destacando-se Wikipédia



     Anhangá


Rios e matas,
passarela da ilusão,
muitas são as máscaras
do desfile de assombração.

Caçador, muito cuidado
com o que irás caçar,
se for branco, o veado,
é melhor não atirar.

Se de olhos afogueados
nem lhe deite um olhar,
pois é alma do outro lado,
é o encantado Anhangá.

Se quiseres boa caça,
faz à ela um agrado:
na ponta de uma vara,
deixa um pouco de tabaco,
os fósforos e a mortalha,
para que faça seu cigarro.

Anhangá quando fuma,
deixa de assoviar,
caçador vai à caça,
foi o trato com Anhangá..
Anhangá, Anhangá, Anhangá!
Anhangá, Anhangá, Anhangá!