sexta-feira, 18 de maio de 2012

Mais uma que aconteceu comigo


Eu era um pouco mais jovem do que no relato anterior (ver a história: "Isso aconteceu comigo"). Devia ter dois anos (minha memória da infância é muito boa em alguns acontecimentos) e morava numa pequena vila com meus avós ( que Deus os tenha) (Açaiteua/Vizeu/Pará). Naquela época não havia luz elétrica, a única iluminação disponível era a das lamparinas e lanternas, e por esse motivo o único entretenimento mais moderno eram os rádios de pilha. Nossa casa era enorme (pelo menos para uma criança): havia três quartos, uma cozinha, sala de jantar, uma área coberta onde ficava o "jirau" -que para os daquela região era a pia- o quintal, uma floresta imensa atrás da nossa casa, e um enorme salão na frente que dava acesso à rua.
Estávamos terminando o jantar, meu avô ( que Deus o tenha!) já havia se levantado da mesa e ido para fora ouvir o rádio e esperar pelos vizinhos que se ajuntavam em frente à nossa casa para mais uma noitada de "causos" e "visagens", que nós os pequeninos da vila, ouvíamos agarrados nas saias das mães ou com as mãozinhas cobrindo o rosto de medo, nos colos de nossos pais. Terminei o jantar e perguntei à minha avó: (que Deus a tenha!) -Onde tá o Pai Nhôca? (Nhôca era o apelido do meu avô)
-Ele foi lá pra frente!-ela respondeu. Mais que depressa, me levantei da mesa e corri para o pátio (enorme salão na frente), mas no caminho, eu bati em alguma coisa no escuro (a fraca luz da lamparina não clareava muito além da sala de jantar), tateei o objeto no qual havia batido e percebi -para meu desespero- que não se tratava de um objeto, mas sim uma "pessoa", terrivelmente peluda e com olhos que brilhavam no escuro como os olhos de um gato contra a luz. -O senhor é meu pai?-perguntei.
-Não!!! a criatura respondeu. A última coisa que me lembro foi de ter entrado de volta na sala de jantar derrubando tudo e minha avô me perguntar aos gritos: -O que foi, pequeno???

Somente depois de ter tomado uns bons goles d'água, consegui dizer o que tinha acontecido. Meu avô ouviu os gritos, pegou sua lanterna, mas não encontrou nada.
Hoje tenho 32 anos, sou casado e tenho uma filha.Meus avôs já partiram deste mundo...
...e tudo parece ainda tão nítido nas minhas lembranças como se tivesse acabado de acontecer.
Confesso que ainda sinto muito medo disso tudo...
Igor Furtado

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