terça-feira, 5 de junho de 2012

Isso aconteceu comigo IV- O espectro corredor.


Das muitas e estranhas coisas que já aconteceram comigo neste mundo, essa é uma das mais "normais".
Década de oitenta, no máximo oito anos de idade, a casa ( a mesma de outras histórias) da WE- 45, n. 442, cidade nova IV.
Eu recordo tão nitidamente como o claro dia de hoje (05/06/2012). Enquanto escrevo isto, me vejo de novo criança, gordinho, branquelo, cheio de inocentes sonhos. Uma criança aparentemente normal, mas que por algum motivo inexplicável era atormentada e visitada por coisas estranhas.
Naquela dia, eu brincava com minha velha bola verde (dente de leite), na proteção quase intransponível dos muros do meu quintal. Fora desses muros, o mundo era enorme e o que viria a ser o conjunto Cidade nova VIII, não passava de uma densa mata carregada de visagens e bichos, de onde vinham avalanches de sons estranhos durante as longas noites de insônia. Enquanto eu brincava, a moça que trabalhava em casa naquela época e que chamava Oneide, lavava as nossas roupas naquele tanque de cimento, que muitos que viveram na Cidade nova naquela época, assim como eu, fizeram de piscina alguma vez. Boas lembranças. Oneide lavava a roupa e de repente deu um grito pavoroso que me fez endurecer todas as juntas do corpo de uma só vez. Voltei meu olhar na direção onde ela estava e percebi algo que se movia muito rápido vindo em nossa direção. Partindo literalmente do muro dos fundos da casa, um espectro magro e translúcido vinha correndo rodeado de fumaça branca. Atravessou o corpo de Oneide e passou por mim em desabalada carreira, chocando contra o muro da frente e desaparecendo em seguida. Acho que não preciso dizer aqui que quase vomitei meu coração de tanto que ele batia acelerado. Liberadas as juntas, corri gritando para dentro de casa para o abraço terno e consoladoramente poderoso de minha avó ( que Deus a tenha para sempre a seu lado, por toda bondade que fez em vida e, claro, por ter enfrentado até mesmo o demônio por mim).
O tempo passou, cresci, me casei, e nunca, repito, nunca esquecerei isso que me causa arrepios até mesmo hoje, num dia tão lindo como este.




Igor Furtado.

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