terça-feira, 5 de junho de 2012

Histórias da minha infância- Meu avô.




Se alguém foi, é e sempre será inesquecível em minha vida, esse alguém é meu avô ( que Deus o tenha em bom lugar, por tudo aquilo que me ensinou e pelas memoráveis e instrutivas surras que me deu.jamais deixarei de te amar). Um homem lendário para mim. Forte, no sentido mais abrangente da palavra. Tinha a insuperável capacidade de ser bruto e amável como nenhuma outra pessoa que eu tenha conhecido. Me ensinou a ler na base da pancada, mas nunca permitiu que ninguém-nem vivo nem morto-me machucasse. Por essas e outras, eu levarei seu nome e sua honra no mais profundo de minha alma até os meus últimos fôlegos nesta terra. 
Dizia minha avó ( que Deus a tenha): " esse homem só teme os castigos de Deus". Verdade seja dita, ele nunca fugiu de nada, nem de ninguém. Mesmo quando já estava idoso e debilitado pelo tempo- algoz de todo homem- nunca vi nele marca qualquer que demonstrasse medo.
Meu avô contava... ( e lá vamos nós, outra vez, através da alva fumaça do tempo, por trás das cortinas do passado) que certa vez, viajando de madrugada na companhia de Deus e de sua "capanga" ( que era uma espécie de bolsa para homens daquela época), e de seu fiel calibre 38, passou por uma ponte, e já muito cansado, resolveu dormir um pouco. Após ter se aconchegado de lado sobre as tábuas duras, com a cabeça apoiada na capanga, quase chegou a cochilar. Quase. Ouviu um imenso ruído como o tropel de muitos cavalos, levantou a vista em direção dos pés e nada viu, assim também na da cabeça e nada. 

Pensando ter sido apenas uma peça pregada pelo extremo cansaço que sentia, tornou a deitar-se. Desta vez, muito mais forte, o tropel parecia já aproximar-se da sua cabeça. Mais que depressa, rolou para um dos lados da ponte, de forma a evitar ser esmagado pelas patas dos cavalos, mas nada passava pela ponte naquele momento. Nada?. Olhando mais atentamente, pode ver somente as pegadas se posicionando na areia que havia na ponte, de uma extremidade à outra. 

Sabendo ele que aquilo não era algo bom, resolveu levantar-se e seguir viagem. 




Quando menino, escutei inúmeras histórias desse lendário homem. Vou colocá-las todas aqui, neste pequeno recanto de visagens, lendas e de "causos" sem explicação.


Em memória de meu falecido avô: José Furtado.




Igor Furtado


  

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